domingo, 20 de dezembro de 2015

PATÊ DE FÍGADO DE GALINHA


Bisa Dóra no casamento da 
Vovi Esther em 1950 (é isso vó?) 


O post de hoje é um tanto polêmico. Polêmico porque fígado, assim como mamilos, é um assunto polêmico. Alguns amam, outros não podem ver nem pintado de ouro - têm ânsia de vômito, enjoo, asco! Eu, obviamente, estou no primeiro grupo. 

No entanto, não pretendo divagar sobre miúdos (nem suínos, nem bovinos e nem de aves!). O que pretendo refletir aqui, entre miúdos, é sobre herança. Aquele direito de herdar, ganhar ou conquistar algo através de uma sucessão. Aquelas coisinhas que nos são transmitidas através de um outro alguém que nos quer bem. Gosto de ressaltar que nem toda herança que recebemos é obrigatoriamente boa, a saber, o meu nariz adunco não foi uma boa herança; já a cirurgia plástica que ganhei 20 anos depois, uhuuuu, obrigada pai, obrigada mãe! Herança maravilhosa. Outra herança incrível que recebi foram algumas receitas da minha bisavó Dóra (vulga Bobby). 

A Vovó Bobby era daquelas que se entregava integralmente à cozinha. Não media esforços para garantir o bem estar familiar quando o assunto era comilança. Nos pratos mais fartos ou naquelas receitinhas mais raras e complicadas, em que os netos iam se estapear pelo pedaço melhor ou maior, ela estava sempre no comando, se certificando que todos estariam satisfeitos, bem alimentados e, claro, se deliciando com os seus quitutes. 


Bobby em seu posto oficial - no comando da cozinha em 199X

Uma verdadeira mestra na cozinha, tinha seus segredos, mas os repassava em detalhes para quem estivesse realmente interessado e querendo aprender. "Nem muito quente e nem muito frio", "nem muito duro e nem muito mole"... Era assim, com riqueza de minúcias que foi passando para as futuras gerações essas deliciosas heranças.
Super caderno de receitas da casa da mãe, 
com a letra da vó .

Hoje, a receita da Bobby que vai cair na rede é a do patê de fígado de galinha. Esta delícia foi resgatada pela minha vó, que aprendeu com a bisa Dóra, e escreveu no caderno de receitas da minha mãe, que me mandou a foto para que eu pudesse mostrar pro povo do Sul o que é patê de verdade. Como sou a favor da multiplicação das heranças, vou deixar aqui a receita para os que quiserem se aventurar na maravilhosa cozinha da Bobby.

Tempo de preparo: aproximadamente 1h30
Rendimento: Muuuuito, sério!

Ingredientes:
- 1/2kg de fígado de galinha 
- sal e pimenta do reino a gosto
- 4 a 5 dentes de alho triturados
- Vinho branco seco (não diz quanto na receita, mas acho que uns 80 ml devem dar conta) 
- 1 cebola
- 2 ovos duros

Modo de fazer: 
Limpar os fígados tirando as gorduras e lavando. Colocar numa tigela e temperar com sal e pimenta a gosto e com o alho socado e deixar marinar com vinho branco ou um pouco de vinho e vinagre. Misturar bem e deixar no marinado por uma hora. Em seguida, picar bem uma cebola e refogar numa panela com azeite até que a cebola fique transparente ou amarelada. Acrescentar o fígado sem o caldo. Fritar por 5 minutos e logo colocar o caldo que sobrou da marinada. Deixar evaporar um pouco sem colocar a tampa da panela. É importante lembrar que o fígado vai soltar água também. Em seguida, diminua o fogo e deixe cozinhar por 15 a 20 minutos. Se ficar muito seco, coloque um pouco de água na panela. Deixe esfriar bem e bata no liquidificador com os ovos duros. O resultado é algo supremo, divino, com aquele sabor único de casa de vó.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Pizza 3.0

Vamos parar um instante para falar sobre pizza.


Esse cara sabe do que estou falando. 
Como os dois ou três leitores frequentes desse blog (e mais 12 russos) devem saber, eu tenho o sonho de fazer a pizza perfeita. Detalhes sobre essa empreitada épica já foram discutidos em outro momento. É suficiente dizer aos neófitos na leitura desse blog que apenas ficarei satisfeito com a minha pizza no dia em que ela for responsável pela paz mundial. 
Ok, talvez nem tanto. Mas no dia em que ela for universalmente conhecida como A melhor pizza do mundo e toda a comunidade global de adoradores de pizza se curvar perante o magnetismo sensual e travesso da minha pizza, posso dizer que cheguei ao meu objetivo. 
É possível que para atingir meu sonho eu demore ainda algumas décadas, precise fazer algumas dezenas de milhares de pizzas e, provavelmente, terraplenar a Itália e seus pizzaiolos com a ajuda do arsenal nuclear russo usando a crise na Síria como desculpa passar um bom tempo visitando a Itália e conhecendo os segredos mais íntimos da massa. Mas tudo bem, acredito ainda ter um bom tempo até chegar lá e não tenho pressa em atingir meu objetivo.
Pois esta é uma ambição que jaz no processo. Há um caminho a ser seguido em que algumas dezenas de receitas e experimentos terão que ser realizados, milhares de pizzas deverão ser consumidas. Farinhas especiais terão que ser importadas e fornos de pizza terão que ser construídos. Queijos e recheios serão utilizados em combinações sem medida e sem regra. É uma jornada longa, porém deliciosa, em que a Mog, minha família e meus amigos vão comer muitas pizzas enquanto eu fico na cozinha olhando a pizza assar no forno, para melhor entender as minúcias do processo.  Se você pensar com calma, essa é a atitude mais altruísta de toda uma vida. 

Ou seja, preparem o meu Nobel da Paz. 


* * *

A última receita de pizza, a pizza 2.0, era muito boa. Porém, muito boa não é suficiente. Problemas com o tempo de descanso e textura da massa deixavam ela um pouco dificultosa. O tempo de assar também não era confiável e mais de uma pessoa já havia me dito que era um pouco pesada. Bom, essa receita resolve todos esses problemas e mais alguns. Devo ficar com ela mais um ou dois anos, em desenvolvimento. Então, com vocês, a Pizza 3.0!



Tempo de preparo: 2 horas.
Rendimento: 8 pizzas médias.

Ingredientes:

-800g de farinha de trigo sem fermento (1kg caso não tenha farinha de semolina).
-200g de farinha de semolina (moída finamente).
-650ml de água morna.
-14g de fermento biológico seco.
-1 colher de sopa de açúcar.
-1 colher de sobremesa de sal.
-4 colheres de sopa de azeite. 
-1 sachê de melhorador de massa de pizza (10g) (se não tiver, não tem problema, ele torna mais fácil a hora de bater a massa e teoricamente dá um upgrade na qualidade geral).

Como fazer?

- Misture a água morna com o fermento, o açúcar e o azeite e deixe descansar por 10-15 minutos.
-Peneire em uma vasilha/tigela (bowl) grande a farinha de trigo, a farinha de semolina, o sal e o melhorador de massa de pizza. Misture os ingredientes secos peneirados com uma colher de sopa e faça um buraco no meio.
-Jogue a mistura de água com fermento etc no buraco feito nos ingredientes secos. Vá misturando a massa e jogando a farinha para junto da parte líquida aos poucos usando uma colher.
- Quando essa mistura inicial for feita, comece a misturar com as mãos. Limpas, por favor. Misture bem com as mãos e transfira para uma superfície devidamente higienizada e levemente enfarinhada. 
- Comece a sovar. Com vontade. Com agressividade reprimida. Mas com amor. Não é tanto uma questão de força (ou tamanho!), mas de energia e movimento. Levante a massa, dobre no ar, bata na bancada e aperte o centro com o carpo. Não um peixe - o marido da carpa -, a parte da palma da mão mais próxima do punho. Sim, exatamente como o Karatê Kid.

Como se a cara do japa fosse a massa.
(Disclaimer: sim, eu sei como termina essa cena)

- É importante agilidade na hora de sovar a massa: se for lento demais ela começa a grudar na sua mão e na mesa (pense uns 10-15 minutos sovando). Resista à tentação de botar mais farinha, coloque apenas se sentir que ela esta muuuito grudenta, mas não exagere: você já vai colocar mais farinha na hora de abrir a massa e muita farinha a mais pode deixar ela pesada. 
- Com a massa homogênea e lisa (mesmo que um pouquinho grudenta), enfarinhe ela por todos os lados e coloque em uma vasilha/tigela/bowl grande, cubra com pano de prato limpo e deixe em um ambiente quente da casa para crescer por uma hora. Entendo que "ambiente quente" não faça muito sentido para o nosso público acima do trópico de capricórnio, mas fica a dica para o pessoal que está em regiões mais frias, como nossos amigos na Rússia. 
- Descansou uma hora? A massa cresce bastante. Agora é hora de bater de novo a massa para tirar o ar, em uma bancada com um pouquinho de farinha. Feito isso ela está pronta, Yay!
- Se você for fazer toda a massa na hora, deixe na geladeira e vá tirando punhados grandes com uma mão para cada pizza que for fazer. Abra a massa em uma mesa com bastante farinha, usando um rolo de macarrão enfarinhado ou uma garrafa de vinho enfarinhada (essa segunda opção é mais arriscada, compre um rolo de macarrão, custa tipo 5 pila). Tente deixar a massa bem fina, faz tooooda a diferença, acredite! 
- Para conseguir o ponto perfeito dessa massa, deixe o seu forno ESTUPIDAMENTE QUENTE. Deixe na temperatura máxima por uns 20 minutos antes de colocar a primeira pizza. Já coloque a pizza recheada, com molho, queijo etc. Coloque o relógio para 12 minutos e ela deverá estar pronta. Cheque se a massa está ao seu gosto. 
- DOZE MINUTOS é o tempo no meu forno. Sugiro que coloque 12 minutos no seu e avalie.

DOZE MINUTOS.

- DICA: Faça a massa e congele em pacotes individuais e vá descongelando quando tiver vontade de comer uma pizza. Use sacos de congelamento colocando um punhado de massa para cada pizza média. É uma boa forma de economizar o trabalho de fazer massa toda vez que der vontade de comer uma pizza caseira. 



Duas boas dicas de recheio:
- Pizza Dr. Theophilo: molho de tomate, muzarela, tomate sem sementes cortado em cubos, um pouco de queijo parmesão de boa qualidade ralado por cima e folhas de manjericão frescas. Lembre-se de colocar as folhas de manjericão após a pizza sair do forno, para não queimá-las deixando-as com gosto amargo.

Infelizmente temos poucas boas fotos da pizza fora do forno.
Normalmente quando vamos tirar fotos ela já está assim. 

- Pizza Al Mare: misture um pedaço da massa (o suficiente para uma pizza) com tintura de lula (a venda nos melhores supermercados, lojas especializadas e no mercado público de Porto Alegre). Bata até a massa ficar negra (ou próximo disso) antes de abri-la. Recheie com molho de tomate, muzarela, camarões (previamente selados em uma frigideira, temperados com sal, pimenta e alho) e Catupiry. Coloque folhas de manjericão em cima antes de servir. Sim, eu entendo que é uma pizza de camarão com catupiry metida a besta, mas e daí? Dá trabalho misturar a massa com tintura de lula e nós nos demos ao direito de rebatizar.

"Sei lá, coloca que é um Yin-Yiang, um equilíbrio de energias
quando um define e o outro e outro define um,
porque pizza também é filosofia" GRINER, 2015. 



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

BOLO DE CENOURA COM GOTAS DE CHOCOLATE (OU NÃO ;))

  "Hoje virei a página do meu diário
por temer a escrita do amanhã"
(Poema "Covarde" de Edison Boeira, 2009)

Antes de qualquer coisa, precisamos pedir desculpas pelo longo período sem fazermos qualquer postagem. Estamos bem, continuamos nos alimentando bem e amando cozinhar, desbravar e descobrir possibilidades culinárias. Estamos apenas indisciplinados para compartilhar as receitas por aqui. Mas esse não é o tema desse post. Apenas um adendo que achei pertinente.

***

 "O príncipe de tua vida
pode ser um sapo.
Terás que procurar.
Quando encontrares, 
com muito carinho,
sem asco...
Beijar."
(Poema "Nojo" de Edison Boeira, 2009)


Sem legenda. Se quer entender, leia o post todo.

Nesse post, queria compartilhar (além de uma receita delícia de bolo de cenoura) uma descoberta interessante desta semana. Morando há pouco mais de dois anos e meio em Porto Alegre, adorando receber visitas e dar a elas autonomia para entrar em casa quando quiserem, e sendo uma pessoa cabeça de vento o suficiente para perder as chaves de casa com frequência e nem sempre encontrá-las de volta, posso dizer que já tenho um chaveiro cativo em terra gaudéria. Confesso que até hoje não sabia o seu nome, mas as suas feições já poderiam ser reconhecidas se o visse em outros contextos. O seu local de trabalho é uma pequena banquinha de metal situada no centro histórico, de frente a um "super" (sim, supermercado aqui é chamado assim). Sempre que precisei de cópias, durante esse período, fui nessa banquinha. Se a cópia não ficava precisa, voltava lá e eles refaziam, ajeitavam, davam mais uma aprumada, uma lixadinha... Meu contato com o seu Edison e com o Luciano (seu sobrinho) se restringe a esses momentos de interação bastante pontuais. Nos minutinhos de espera para a chave ficar pronta, chamava-me a atenção a presença de alguns livros (uns 6) na bancada. Ficava intrigada com a presença descontextualizada daqueles livros ali. Mas nunca o suficiente para questionar algo a respeito. No entanto, essa semana, atentei para uma coisa que, até então, nunca havia notado. Aqueles livros eram de um mesmo autor. E seu sobrenome - Boeira - estampava a fachada da banca Boeira Chaves. Nesse dia, quem me atendia era o Luciano e resolvi perguntar: "Aquele senhor que trabalha aqui é seu pai? Ele também é escritor???". E foi assim que descobri que por trás da carcaça do chaveiro sério e experiente, havia um doce e delicado poeta. 

  "Queria trocar
cada objeto que tenho.
A meia, o sapato,
o sofá, a cortina
o imóvel, o automóvel,
a grandeza, a triste sina...
Por um olhar teu.
Por um beijo teu.
Por um filho nosso."
(Poema "Proposta" de Edison Boeira, 2009)

Não hesitei nem um segundo e, em um lampejo de cara-de-pau, pedi: "Você se importaria de me emprestar algum desses livros. Eu prometo que depois venho aqui devolver." O sobrinho me olhou com uma leve desconfiança frente ao pedido inusitado (talvez abusado) e me passou um livro fininho de poemas intitulado "O poeta, o sapo e o prato do dia". A atenção e precisão que necessita ter com suas chaves, Edison tem também com suas palavras. E foram essas palavras, meticulosamente escolhidas, lapidadas, polidas, ajeitadas e aprumadas que adoçaram a minha tarde chuvosa.  

  "Se queres um caminho novo
e não consegue encontrá-lo,
pergunta ao teu consciente
se, só vivendo o presente,
não vais com excesso atrasá-lo"
(Poema "Ponderar" de Edison Boeira, 2009)

Para acompanhar os poemas: bolo de cenoura com gotas de chocolate. Para agradecer pelos poemas: bolo de cenoura com gotas de chocolate.
Para quem ficou com água na boca: bolo de cenoura com gotas de chocolate. 

  "Tenho medo que a soma 
de tudo que tenho
não seja suficiente
para pagar
a primeira
parcela."
(Poema "Conta" de Edison Boeira, 2009)

Rendimento: 15 boas fatias ou 15 cupcakes
Tempo de preparo: 1 hora 

Ingrediente:
4 cenouras
0,5 xícara de óleo
3 ovos

2 xícaras de farinha
1,5 xícaras de açúcar
1 colher de sopa de fermento
200g de chocolate em barra (usei o meio amargo que não tinha leite na composição)

Modo de preparo:
Lave e descasque as cenouras, descartando as pontas, e corte-as em rodelas grandes (umas 4 ou 5 cada cenoura). Coloque as cenouras, o óleo e os ovos no liquidificador e bata. Eu costumo não bater muito, pois gosto de ver os pedacinhos da cenoura. Mas fica ao gosto de cada um. Despeje o esse creme em um outro recipiente misturando-o ao açúcar e à farinha com uma espátula. Acrescente o fermento e misture novamente bem. Por fim, pique a barra de chocolate e adicione à mistura. Coloque em uma assadeira untada ou em forminhas de cupcake e leve ao forno pré-aquecido a 220°C por 20 a 30 minutos, verificando com um palito de dentes quando ele está pronto (deve sair sujo de chocolate, mas não de massa de bolo). E bom apetite!

OBS: Esta receita também funciona sem gotas de chocolate e com ou sem cobertura.    


 "Tu que estás aí parado,
lendo esta poesia,
cumprimenta os vizinhos ao lado.
Sorria.
Perfeito
Vai ser bom,
vai ser ótimo
o teu, o meu,
os nossos dias."
(Poema "Feliz" de Edison Boeira, 2009)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

BRIGADEIRÃO

Desde abril deste ano, quando fui agraciada com uma farta linha de produtos lácteos zero lactose que incluíam (finalmente!) o leite condensado e o creme de leite, tenho recorrido a esse doce viés para afogar cada pequena mágoa, angústia, insegurança, desregulação hormonal ou puro desejo de comer doce sem qualquer desculpa esfarrapada. As opções se tornaram amplas. Ninguém mais me segura! Mas tem uma receitinha especial, com nível de dificuldade "aperte o botão do microondas" que tem um espaço que sempre esteve guardado em meu intolerante coração e em minhas saudosas memórias de um passado em que eu tinha total autonomia para produzir a minha própria lactase. Sim, estou falando dele mesmo: o BRIGADEIRÃO! 

Tempo de Preparo: 10 minutos (Sério!) + 1h de geladeira
Rendimento: poucas horas

Ingredientes:
1 lata ou caixa (395g) de leite condensado
1 lata ou quase 2 caixas de creme de leite
3 ovos
1 xícara de achocolatado, ou chocolate em pó, ou meio a meio
1 colher de manteiga (pode ser clarificada, se você for do time dos lacfree)

Modo de preparo:
Bata todos os ingredientes no liquidificador, coloque a mistura em uma forma com furo no meio (que possa ir ao microondas, ou seja, que não seja de metal), coloque no microondas, em potência máxima, por 4 a 5 minutos (depende do microondas). A ideia é que não fique completamente firme, para que forme uma deliciosa caldinha cremosa. Desenforme quando estiver morno e leve à geladeira se você aguentar esperar.

S2 S2 S2,    <3 <3 <3


  

domingo, 26 de julho de 2015

OCTOPUS'S GARDEN (Polvo Grelhado ao Azeite de Açafrão)

Hello Everyone!

O texto de hoje é um texto sobre amizade e que devia ter sido publicado no dia do amigo (20 de julho!), mas eu tinha coisa melhor para fazer, então não foi.

Toda a nossa prática gastronômica parte de um princípio muito simples: faça seus amigos felizes com comida. Seguindo esse mantra, adoramos receber e fazer almoços e jantares para os nossos amigos, seja em Porto Alegre, Natal, Rio de Janeiro ou Porto Velho. E isso nos motiva a tentar fazer sempre pratos melhores, maiores, mais mirabolantes, mais inovadores e, porque não, pantagruélicos, que é uma palavra que eu não sei muito bem o que significa, mas me pareceu um adjetivo apropriado.

Percebam, dentre todas as milhares dezenas de pessoas que nós alimentamos ao longo dos anos, nós tínhamos uma pessoa que se dizia nossa grande admiradora, e que tinha um lugar todo especial no nosso coração. Tão especial que nós chegamos a fazer almoços de Páscoa especiais para essa pessoa. Erramos o dia de comer peixe, mas e daí? A intenção era boa. Enfim, o tipo de pessoa especial com quem se compartilha momentos especiais, cantando a música do jumento dos saltimbancos depois da meia noite.  Não quero citar nomes, então vamos chamar essa pessoa de... Fabiane (não é o nome real).


Ela ainda nos fez uma placa. Que agora será conhecida como a placa da traição.

Essa história trágica de amizade perdida começou justamente no dia em que resolvemos fazer polvo. Polvo é algo que é fácil de estragar ou ficar borrachudo, mas descobrimos uma receita prática para solucionar esse problema. E o resultado final foi glorioso: um polvo macio, mas com uma levíssima crosta por fora e um tempero suave que contemplava todo o esplendor do nobre molusco. Enfim, ficou bom bagarai.

E nós mal podíamos esperar para compartilhar com nossos amigos! Mil planos para colocar o polvo num jantar futuro. E mais, pensando: "Poxa, devíamos ter chamado a Fabiane hoje!". Foi então que mandamos fotos do prato final para os nossos amigos. Sim, nós somos o tipo de pessoa que usa o Whatsapp para isso. E qual foi a reação geral? Chutem, qual foi a reação?

"Muito exótico para mim"! "Deve ser bom, para quem gosta"! "Não curto polvo". "Confesso que não sei se tenho coragem rs." "Não gosto da textura dele, Di".

Vejam bem, tudo isso faz parte. Não se pode agradar a todos. A gente entende. Contudo, não estávamos preparados para a reação da nossa "maior admiradora":

"Já comi... mas não é nada d+ pra mim. Normal".

Retratado: a nossa reação ao comentário.

Essa é a pior coisa que ela já me fez. E olha que ela me deixou 4 dias internado no hospital com catapora. #truestory

Mas pouco importa. Juntamos os cacos do nosso coração partido e seguimos em frente. Encontramos novos amigos que adoraram o polvo. E aqui vai a receita, para os nossos novos amigos, para os amigos do polvo.
Um abraço com oito braços para todos os amigos do polvo!

Rendimento: 4 pessoas (contando acompanhamentos)
Tempo de preparo: 30 minutos (sem contar os acompanhamentos)

Ingredientes:

- 1 polvo inteiro de mais ou menos 1,2kg depois de limpo (ou 2 de 600g, ou 3 de 400g, ou 4 de 300g...);
- 1/2 limão siciliano;
- 1 cebola média;
- 2 folhas de louro;
- 100 ml de vinho branco seco;
- Azeite;
- Açafrão da terra em pó;
- 4 dentes grandes de alho;
Sal e pimenta do reino.
- Alecrim;
- 2 colheres de sopa de manteiga (pode ser clarificada);
- Amêndoas laminadas (opcional, mas agrega);
- Pimenta caiena (opcional)

Como fazer?

- Bom, contando que o seu polvo já foi limpo na peixaria, passe uma boa quantidade de água fria por ele, para limpar bem. Coloque-o na panela de pressão com meio limão siciliano, a cebola média descascada (cortando as pontas, mas sem picar ou fatiar), o louro e o vinho branco. Não precisa colocar água! Feche a panela de pressão e deixe cozinhando até pegar pressão. No momento em que pegar a pressão, conte 10 minutos (ou cronometre, se você não tiver paciência para ficar contando...). Deu 10 minutos, tire do fogo e esfrie a panela com água fria na pia, até perder a pressão, e abra a panela. O resultado final deve ser algo parecido com isso aqui:

Porém sem filtro. 

- Em uma vasilha pequena, coloque 80 ml de azeite, 2 dentes de alho fatiados, uma colher de chá de açafrão em pó e um pouco de alecrim. Se quiser, coloque uma pitada de pimenta caiena. Misture tudo bem: você vai usar essa mistura para pincelar o polvo quando ele estiver grelhando.
- Corte os tentáculos do polvo aproveitando o máximo que puder. A base dos tentáculos também tem uma carne bem macia e saborosa, corte-a em pedaços pequenos. A cabeça do polvo, se estiver bem limpa, também pode ir para a grelha (ela vai perder muito o tamanho). Apenas a parte perto da boca do polvo deve ser descartada.
- IMPORTANTE: NÃO JOGUE O CALDO FORA. Você vai usar algumas colheres dele para fazer o molho para o seu polvo; o restante, depois de devidamente peneirado, pode ser congelado para fazer excelentes risotos de frutos do mar.
- Se tiver uma churrasqueira dando sopa, use-a para grelhar o polvo. Caso contrário, aqueça uma bistequeira (ou mesmo uma boa frigideira) untada com azeite e coloque os tentáculos, alguns por vez. Pincele com a mistura de azeite com açafrão e tempere com sal e pimenta do reino cada tentáculo. Um minuto e vire. Pincele o outro lado, e mais um pouco de sal e pimenta do reino. Trinta segundos e retire da grelha. Faça isso, alguns pedaços por vez, até ter feito todos os pedaços.
- Para o molho, ponha as duas colheres de manteiga em uma frigideira em fogo baixo. Quando derreter, coloque os outros dois dentes de alho picados e, em seguida, as amêndoas laminadas (opcional). Quando o alho começar a dourar, acrescente umas 3-4 colheres de sopa do caldo do polvo, um pouco de sal e o que sobrar da mistura de azeite com açafrão que foi usada para grelhar o polvo e está pronto para ser servido junto ao polvo para dar um toque final!

Dicas de acompanhamentos: arroz branco é sempre bom, purê de mandioquinha (batata baroa ou batata salsa) e ervilhas tortas firmes arredondam bem o prato.

I'd ask my friends to come and see, an octopus' garden with me,
mas eles disseram que não gostam de polvo, então nunca mais
chamamos a Fabiane para almoçar nos sábados. 



quinta-feira, 23 de julho de 2015

LINGUINE COM VÔNGOLES E CAMARÕES

Há alguns anos, estava no Rio de Janeiro esperando alguém, em algum lugar, por algum tempo... é acho que não lembro muito bem dessa história. Mas relevem os dados e fatos imprecisos. Enfim, como eu precisava fazer hora, enquanto eu esperava a tal pessoa, resolvi entrar em uma livraria (que também não lembro qual era, mas tenho uma vaga lembrança que era a Travessa). Na época, estava lendo um livro daqueles que prendem a atenção - mas, óbvio, também não lembro qual era o livro. Isso tá pior do que contar um sonho, onde você vai aos poucos percebendo que as coisas simplesmente não se encaixam. Mas, voltando... Fiquei um tempão na livraria esperando, quieta, entretida com um livro que eu já tinha, e que, portanto, não iria comprar. Sei que quando estava saindo da livraria bateu um leve constrangimento de ter ficado abrigada ali por tanto tempo e sair sem despender nenhum centavo, que resolvi comprar um livro de massas e molhos. Dei uma olhadinha no livro e por muito tempo não o usei de fato. Até que um dia resolvi resgatar uma receita de lá e ficou incrível!


Do it. You won't regret.

Bem, é a única receita que usei do livro todo. Mas, já fizemos vááááárias vezes essa receita e diversas variações que ficam sempre tão, tão, tããão boas, que posso afirmar com certeza que o livro já se pagou fácil!!!

Rendimento: 6 pessoas
Tempo de Preparo: 1h

Ingredientes:

1 pacote (500g) de linguine (ou capeline, ou espaguete, ou...) 
4 colheres de sopa de azeite
1 cebola grande picadinha
1 lata de 400g de tomates promíscuos pelados picados (não usar o suco)
3 dentes de alho grandes picados, ralados ou amassados
4 colheres de salsinha fresca picada
sal e pimenta a gosto
800g de vôngoles com casca
1 copo de vinho branco seco
800g de camarão sem casca

Conheça o habitat dos vôngoles em Galos-RN. Algo que nasce em
um lugar paradisíaco desses não tem como não ser maravilhoso, né?!
Como fazer:

Tempere o camarão com sal, pimenta e um dente de alho. 
Aqueça uma frigideira grande (ou Wok pan)com 2 colheres de azeite e acrescente a cebola, refogando em fogo baixo até ficar transparente. Coloque as cebolas no cantinho da panela, aumente o fogo e dê uma rápida selada/fritada no camarão (esse processo leva uns 2 minutos para cada leva de camarão, mas não coloque muitos em cada leva, pois soltarão muita água e irão cozinhar ao invés de selar). Retire os camarões e reserve-os. Em seguida, adicione na frigideira com cebola o tomate picado, os outros 2 dentes de alho, 3 colheres de salsinha, sal e pimenta e cozinhe por cerca de 15 minutos.
Encare como um passa-tempo gostoso ou você vai
se irritar muito nessa etapa do processo.

Enquanto isso, aqueça uma panela com as outras 2 colheres de azeite, coloque os vôngoles com suas cascas lavadinhas e o vinho branco. Tampe e cozinhe por 5 minutos. Em seguida, abra as conchas, retire o molusco (este é um momento bastante terapêutico) e descarte as que não abrirem. RESERVE O CALDO DO COZIMENTO E ALGUMAS CONCHAS COM OS MOLUSCOS PARA DECORAR.

Acrescente meia xícara do caldo do cozimento dos vôngoles ao molho de tomate e cozinhe por mais 2 minutos. Acrescente os camarões e os vôngoles e cozinhe por outros 2 minutos. Verifique o tempero e acerte se preciso. 

Apaixonou? Neste dia foi servido para 9 doutorandos
 famintos, na pré inauguração do D&G (o nosso restaurante
 fictício, para quem ainda não sabe) sob o nome de:
Spaguetini contínuo ao vinho, com multiplicidade de vôngoles e camarões
Acrescente a massa recém-cozida e escorrida na frigideira, misture bem ao molho e decore com a colher remanescente de salsinha e os vôngoles na casca.

A ideia era tirar a foto antes, mas a fome era tanta
que só lembrei já no fim do prato. Ops!
  
PS: O que sobrar do caldo dos vôngoles pode ser guardado para fazer risotos depois.
   





domingo, 12 de julho de 2015

DADINHOS DE TAPIOCA

A nossa história com Dadinhos de Tapioca é uma história de dois erros e um acerto. Para ser mais preciso, um erro, um acerto e depois outro erro. Mas vamos por partes. 

Não adianta inventar muita moda com dadinho de tapioca. Todas as nossas investigações pelas internets da vida indicaram apenas uma forma de fazer, com pouco espaço para manobra. Com o tempo, vamos experimentando e fazendo modificações, mas, por hora, temos uma excelente receita de aperitivo que é fácil, um pouco demorada, e muito gostosa. 

Ah, você não sabe o que é um Dadinho de Tapioca? Bom... é um quadradinho... tipo um dado. Feito com tapioca e queijo coalho. E é muito, muito bão, sendo uma excelente entrada estilo finger food


Dadinhos de Tapioca e sua inseparável amiga Geleia de Pimenta

Agora que você já foi devidamente apresentado ao Dadinho de Tapioca, podemos voltar ao inicio da história.
O primeiro erro aconteceu quando nós achamos que granulado de tapioca era a mesma coisa que goma de tapioca (não é, nem um pouco). O resultado do nosso dadinho com goma de tapioca ficou... diferente. Não necessariamente ruim, mas diferente. Diferente não como o David Bowie é diferente. Diferente mais no estilo Miley Cyrus. Simplesmente não funcionou.

Por favor, pare. 

Bom, outro dia fizemos uma segunda tentativa e deu certo! Muito certo. Tão certo que levou a um segundo erro: fizemos uma quantidade relativamente grande, para um grupo relativamente pequeno. E estava tão bom, que todo mundo (nós inclusive) foi se empanturrando de dadinho de tapioca com geleia de pimenta (e nachos com guacamole, mas isso é para outro post) e ao final, ninguém teve muito apetite para o prato principal. Foi bem tiro no pé. Foi ruim. Mas foi bom. 

Bom, sem mais delongas, a receita mais consagrada e prática de dadinho de tapioca:

Tempo de preparo: 4 horas (mas é bem fácil de fazer, demora mais tempo na geladeira)
Serve: cerca de 15 a 20 pessoas (como entrada) - Na ocasião, nós eramos 5... 

Ingredientes:
- 500g de queijo coalho ralado (grosso ou fino, mas não em pó como o "queijo ralado" sintético de supermercado)
- 500g de tapioca granulada (só para lembrar: tapioca granulada não é igual a goma de tapioca);
- 1 litro de leite;
- Sal e pimenta do reino a gosto.

Como fazer?
 - Numa vasilha grande, misture bem o queijo coalho ralado e a tapioca granulada, com as mãos mesmo, para sentir que ficou bem misturado;
- Numa panela grande, coloque o litro de leite, uma colher de chá de sal e pimenta do reino a gosto. Leve o leite a ferver. Assim que a espuma começar a subir, desligue o fogo.
- Desligado o fogo, jogue a mistura de tapioca granulada e queijo coalho na panela. Vá mexendo bem, observando o queijo derretendo aos poucos (queijo coalho nunca derrete muito) e formando uma pasta grossa não muito homogênea. 
- Pegue uma assadeira de tamanho médio, forre bem com filme de pvc em baixo e dos lados. Distribua a pasta pela assadeira. Use um papel manteiga (ou mesmo filme de PVC, mas é mais chato de fazer) por cima da pasta para uniformizar a distribuição, passando bem a mão pela parte de cima. A ideia é ocupar toda assadeira. É importante ser uma assadeira média: uma assadeira muito grande e a pasta vai ficar muito rasa, se for muito pequena, vai ficar muito grossa. Pense em uma profundidade de 2-3 cm. É importante fazer essa distribuição logo depois do processo de mistura no fogão: quando começar a esfriar, vai endurecer e vai ser bem mais difícil colocar na assadeira do jeito apropriado.
- Colocado a pasta na assadeira, leve para a geladeira por umas 3 horas. O resultado final é um bloco bem firme e uniforme. 
- Divida o bloco em duas metades (para ficar mais fácil de cortar) e comece a cortar os cubos: pense 3 cm de lado aproximadamente. É importante tentar deixar todos do mesmo tamanho (aviso: você não vai conseguir, mas vai dar certo mesmo que uns fiquem um pouco maiores do que os outros). 
- Enquanto corta os cubos, vá colocando em uma outra assadeira, lembrando de deixar um pouco de espaço (1-2cm) entre cada dadinho para o calor circular bem.  Provavelmente você precisará de umas duas assadeiras para colocar todos. Leve ao fogo médio-alto (pré-aquecido) por uns 40-50 minutos (vai depender do tempo do seu forno, talvez até mais), até que fiquem levemente dourados (alguns vão ficar mais brancos, outros mais tostados... eu não tenho preconceito). 
- Outra possibilidade mais rápida: frite os dadinhos em imersão. É bem mais rápido, mas faz mais sujeira na cozinha e não é tão saudável, mas é uma opção.
- Dadinhos prontos? Sirva com geleia de pimenta ou outros molhos agridoces de sua preferência. Com um bom molho thai também fica bom, assim como com chutney de frutas, como de açaí e manga. Enfim, seja criativo com o molho, mas a aposta mais segura é a geleia de pimenta. 

E aí, tem dado em casa?