domingo, 31 de janeiro de 2016

GUIA DE GASTRONOMIA PÓS-APOCALÍPTICA: MACARRÃO AGLIO e OLIO

Atenção: Dado à chuva que ocorreu em Porto Alegre no dia 29 de Janeiro, interrompemos a nossa programação de verão sobre Lagosta para um informativo especial sobre como sobreviver num cenário pós-apocalíptico. 


Porto Alegre encontra-se em um cenário de caos. Até a tarde do dia 31, boa parte da cidade está sem água e luz, mesmo dois dias depois do evento - que agora está se descobrindo, pode muito bem ter sido um tornado. Foi com grande tristeza que andei ontem pelo Centro e Menino Deus vendo centenas de árvores quebradas, postes torcidos, casas e postos de gasolina destelhados. O Corpo de Bombeiros da Praia de Belas sofreu vários danos com queda de árvores e estruturas - justamente os heróis do dia a dia que são a primeira frente de combate nesse tipo de tragédia. 
Sem piadas aqui, essa é uma imagem muito triste
para todos que conhecem o Parque Marinha.

Por sorte, até o momento não foi registrada nenhuma morte e esperamos todos que continue assim.

Essa peculiar situação levou Porto Alegre por dois dias a uma condição de trevas - sem luz, sem água e sem comida, já que muitas lojas fecharam as portas. Com geladeiras inutilizadas, centenas de litros de iogurte e algumas toneladas de carne, além daquele resto do almoço de sexta, completamente estragados.  E quem estava com a geladeira e a casa desabastecida, como eu, encontrou restaurantes próximos e o supermercado Zaffari da Fernando Machado fechados, coisa que aconteceu apenas... nunca. Aquele supermercado nunca fechou durante o dia em sua história. Como diria a nossa amiga e leitora assídua Juliana Brum, o fechamento do Zaffari foi o sinal mais claro do fim dos tempos que já acometeu essa nobre cidade. 

Pensando em cenários com esse, o D&G resolveu fazer esse pequeno post de utilidade pública, ensinando algumas dicas sobre como sobreviver em um cenário de apocalipse e como fazer uma receita simples e rápida que irá ajudá-lo a sobreviver sem o auxílio de uma geladeira. Vamos lá.

1. Nunca coma toda a sua comida. Todo cachorro come o máximo possível o mais rápido que consegue, basicamente porque foi instintivamente programado a isso por não saber quando será a próxima refeição. A dica aqui é simples: quando o Zaffari vai reabrir? Não sabemos. Quando a luz vai voltar? Não sabemos. Quando as primeiras hordas de canibais vão começar a varrer as ruas? É um mistério. Logo, deixe sempre uma refeição de saldo dentre as suas provisões. Tem 5 dentes de alho? Use no máximo 3. Tem 200 ml de azeite? Use apenas 100ml. Queijo parmesão especial? Use apenas o suficiente para a receita ficar boa.

Maçã: sabendo cortar, vira comida para a semana inteira. 

2. Aprenda a reconhecer e utilizar armas brancas na cozinha. Não me leve a mal, todos sabemos que em um cenário pós-apocalíptico devemos andar com uma pistola na cintura, no caso inevitável de ataques de zumbis, canibais ou vizinhos tentando roubar a sua água e comida pois o supermercado ainda não reabriu. Mas o que poucos lembram é que é necessário saber improvisar, especialmente porque uma pistola normal apenas carrega cerca de 10 balas (6 balas se for um revolver). Facas de cozinha e tesouras são opções óbvias, mas um pau de macarrão pode ser uma boa arma de impacto, assim como frigideiras e woks de cabo longo. Panelas em geral não têm aerodinâmica adequada para combate corporal então, evite-as. Algumas opções aparentemente óbvias devem ser repensadas: um garfo não tem capacidade de causar muito dano, no entanto uma colher de metal pode ser facilmente utilizada para remover o olho do adversário. Essa também é uma boa oportunidade para considerar a compra de um quebra-nozes.



3. Mantenha uma pequena horta. Um dos grandes problemas do apocalipse em outros tempos era a ausência de vitaminas essenciais garantidas por alimentos frescos. Tudo isso foi superado hoje em dia com o advento dos polivitamínicos, que qualquer sobrevivente do apocalipse deverá começar a estocar ao menor sinal do fim dos tempos. Outro problema, que resta a ser superado, é a falta de sabor nos alimentos. Assim, manter uma pequena horta com ervas como alecrim, tomilho, orégano, salsinha, cebolinha e manjericão é uma excelente forma de manter seus pratos bem temperados no caso do fim da sociedade ou de o Zaffari ficar fechado por mais de dois dias. 

Vivendo em uma sociedade pós-Zaffari.

4. Mantenha uma Korova bem alimentada e saudável. Essa é uma estratégia retirada diretamente dos tempos da União Soviética. Prisioneiros nas Gulags, em suas escapadas, faziam questão de levar consigo uma Korova, palavra que no sentido literal significa "vaca". Nestes casos, significava algum amigo gordinho e amistoso que era levado junto para ser sacrificado e canibalizado no meio do caminho, durante a travessia dos desertos gelados da Sibéria. Dentre as inúmeras vantagens de usar uma Korova ao invés de uma marmita, está o fato da Korova ajudar no planejamento e execução da fuga, além de ajudar a carregar suprimentos (já que a sua comida anda com as próprias pernas). Assim, mantenha um colega gordinho saudável e bem alimentado para o momento em que for necessário fazer um "churrasco com um amigo". Apenas tome cuidado, certifique-se de que não é você a vaquinha. 

"Como assim me comer? Isso não vai atrapalhar nossa relação?"

5. Aprenda os melhores cortes canibais. Essa é uma questão peculiar e muito importante. Se você tiver fogo para preparar o alimento, ótimo, use a sua imaginação e pense que a carne humana é, em muitas formas, similar à carne de porco. Lombo e coxa são boas pedidas, e reza a lenda que a carne da bochecha é um verdadeiro filé. Mas o real valor nutritivo do corpo humano está nos órgãos internos. Caso não tenha fogo para preparar alimentos, aposte nos rins, no coração, no cérebro e no fígado para se alimentar de outro ser humano com segurança. Além do que, basta um pouco de criatividade para transformar estes e outros órgãos em verdadeiros banquetes gourmet. Dica: assista a série Hannibal para sugestões de receitas.

Com um pouco de paciência e cuidado, uma Korova pode durar alguns meses.

Bom, depois deste curso rápido, vamos agora a uma receita simples e deliciosa para o pós-apocalipse: Macarrão Aglio e Olio (baseado em fatos reais).

Tempo de preparo: 25 minutos.
Rendimento: 2 porções.

Ingredientes
- 12 dentes de alho finamente fatiados na longitudinal (Lembre-se de sempre deixar alguns sobrando);
- 150ml de azeite (lembre-se: no pós-apocalipse, é importante armazenar energia corporal);
- 1 pimenta dedo de moça sem sementes picada ou 1/3 de colher de chá de pimenta calabresa desidratada, caso o Zaffari esteja fechado e você só tenha isso em mãos. 
- Sal a gosto
- 250g de espaguete 
- 3 colheres de sopa de salsinha ou manjericão picado (o que tiver na sua hortinha);
- Parmesão de boa qualidade ralado (parmesão de boa qualidade aguenta sem ficar refrigerado, shut up).

Como fazer?

- Cozinhe o macarrão previamente até estar al dente e escorra. Não deixe ficar completamente "pronto", posto que ele continuará a cozinhar por um tempo na panela com o tempero. 
- Em uma wok ou frigideira grande, coloque todo o azeite e espere esquentar. Coloque o alho fatiado. Deixe por uns 30 segundos, e coloque o sal e a pimenta de sua escolha. Mexa de vez em quando até o alho ficar em um tom levemente bronzeado.


- Desligue o fogo e coloque o macarrão na wok e o verde de sua escolha aos poucos, misturando bem com o alho. Não tenha tanta pressa, coloque o macarrão de pouco em pouco para misturar bem com o alho. 
- E esta pronto! Sirva com parmesão ralado por cima e se quiser comer algo beeem diferente, experimente espremer um pouco de limão siciliano por cima, fica um sabor muito interessante.

O meu nunca fica assim, mas fica sempre muito bom. 


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