sexta-feira, 13 de março de 2015

CAMARÃO NA MORANGA DE SEXTA-FEIRA 13

Corria o ano de 2013, e calhava de ser a décima terceira lua cheia, no dia 13, do mês 13, às 13 horas e 13 minutos (horário de Brasília), quando alguns desavisados adentraram um pequeno apartamento antigo no Centro Histórico de Porto Alegre. Essa seria apenas mais uma noite fria de confraternizações e mesmo a coincidência numerológica não apresentava qualquer peculiaridade extraordinária, não fosse uma conjunção de fatores que levaram à nefasta conclusão daquela noite. 

Pois aquela não era apenas uma rua charmosa qualquer do centro. Naquela rua, o vento frio que arrasta as folha secas de outono conta uma história mais aterradora que qualquer pesadelo Poeiano. Naquela rua, 150 anos atrás, no auge do Segundo Império, o Sweeney Todd original, José Ramos, e sua cruel esposa, Catarina Palsen, foram responsáveis pelo assassinato e canibalismo (via ensalsichamento) de dezenas e dezenas de marinheiros excitados, no caso que é conhecido apenas pelos gaúchos no Brasil inteiro (e, principalmente no mundo!) como os crimes da Rua do Arvoredo. 

A geografia da cena seria por si só suficiente para causar arrepios nos incautos visitantes da Rua do Arvoredo naquela noite fria do dia 13. Mas aquela não era apenas uma noite fria do dia 13 do mês 13. Aquela também era... uma SEXTA FEIRA TREZE (TAN-TAN-TAN!!)

Nós teríamos começado o texto com isso, mas achamos que é feio
chutar quem já está caído. 
Foi nesta noite de infeliz conjunção astral que o D&G decidiu abrir suas portas, servindo pela primeira vez, oficialmente, um grupo de amigos com um cardápio elaborado. Havia ambição em seus olhos: quatro pratos complexos, salada, ceviche com chips de batata doce, o camarão na moranga e um cremoso sorvete de banana de sobremesa. Motivação não faltava, e os trabalhos na cozinha começaram ainda pela manhã daquela sexta-feira 13. Se apenas nós soubéssemos... se apenas tivéssemos sido avisados... de como aquela noite terminaria...


Muitas coisas estranhas aconteceram naquela noite.

Colocamos todo nosso suor no prato, figurativamente e literalmente (sorry bros), gastamos quase uma dezena de horas cortando, picando, limpando, cozinhando. Alegres risadas eram ouvidas na sala enquanto o som ambiente da cozinha era regido pelo calor das panelas e a inspiração das facas, tudo movido à empolgação dos Chefs. Nós usamos todos, todos, **TODOS** os talheres da cozinha, cada faca, cada garfo, cada colher de sopa e de chá; todos os copos, taças e xícaras (com o Nespresso obrigatório pós jantar); cada prato, raso, fundo e de sobremesa... nenhuma panela escapou imune, nenhuma vasilha...
"-Pode deixar que eu ajudo a lavar a louça depois!"
"-Deixa que a gente cuida!"
Diziam nossos honoráveis convidados. Mas nada disso seria necessário, pois nós tínhamos um trunfo. Um grande trunfo. E cada oferta generosa de auxílio era respondida com um arrogante:
"-Pode deixar, amanhã a diarista vem!"

E assim nossos convidados partiram. E assim fomos todos exaustos dormir o sono dos justos. Congratulamo-nos a nós mesmos pelo sucesso da noite. A comida deliciosa. As gargalhadas gostosas. E na cozinha sobraram os corpos de uma batalha vencida. 



Retratada: Minha pia logo após o jantar.
Pois o que ninguém conta é que depois de toda sexta-feira 13 vem um sábado 14, e quem não vem num sábado 14 é a f#%*@£%¨m@4¬&* da diarista.

Naquela manhã de sábado 14, desespero atingiu um novo significado. 



Retratado: Eu, às 9 da manhã do sábado 14.
Tempo de preparo: 2 horas
Rendimento:  4 pessoas

Ingredientes:

- 400g de camarão sem casca;
- 400g de moranga, abóbora ou jerimun cortada em cubos;
- 1 moranga estilo halloween;
- 1 cebola roxa picada em cubinhos;
- 2 dentes de alho picados;
- 3 colheres de sopa de leite;
- 2 colheres de sopa de molho de tomate;
- Sal;
- Pimenta do Reino;
- Coentro picado a gosto;
- Cebolinha picada a gosto;
- Pimenta tabasco;

Como fazer?

1) Corte a parte de cima da abóbora fazendo um círculo. Retire a tampa e guarde. Limpe bem por dentro, retirando todas as sementes. A maior decepção do camarão na moranga é que você não usa nada da moranga que vai servir de vasilha para preparar o prato. Decepção, eu sei,
2) Coloque os cubos de moranga para cozinhar na água quente até ficarem bem macios, prestes a desmanchar;
3) Lave bem os camarões, tempere-os com sal, pimenta do reino e alho. Deixe pegar sabor por alguns minutos e coloque-os em uma frigideira pré-aquecida com azeite. A frigideira precisa estar bem quente. Fique atento ao ponto para o camarão ficar macio e rosado, é bem rápido. Reserve os camarões prontos.
4) Em uma panela, doure a cebola e acrescente a moranga já bem macia. Amasse bem fazendo um purê,  colocando o molho de tomate e o leite. Acrescente os camarões prontos e o coentro. Ajuste o sal e acrescente pimenta tabasco a gosto. 
5)  Coloque o purê de moranga com os camarões dentro da moranga que foi aberta. Se quiser, rale um pouco de queijo coalho em cima e leve ao forno para gratinar por alguns minutos. De outra forma, já está pronta! Dica: sirva com arroz branco.


BÚ!


terça-feira, 10 de março de 2015

SPICY THAI SALAD

Let's talk about sexalad.


Representado: como eu me sinto comendo salada.
Sejamos sinceros. Eu entendo porque alguém come tomate cru. É docinho, remete automaticamente ao sabor de uma boa pizza e é bem "suculenti" (Ulisse, 2013). Cenoura? Humm, ok, beta-caroteno e faz um bom bolo. Palmito e cebola, tá, ok. Mas o que faz uma pessoa gostar de alface? Tudo bem, eu te concedo a rúcula (a Mogui não concede). Agora, alface?


Não, não venha pormenorizar a presença do alface nas saladas. Elas são o item básico, principal. Alface está para a salada assim como a massa está para a cozinha italiana. Ou programas de culinária para o GNT.


GNT: redefinindo o conceito de "Food Porn" uma sub-celebridade culinária de cada vez. 



Nós do D&G acreditamos que nossos antepassados não inventaram machadinhos e lanças para que hoje tenhamos que nos resignar a comer alface. Além do que, alface está na base da alimentação de lagartas (que são basicamente bebês borboleta) e coelhos. Se você come alface e semelhantes, você está tirando comida da boca de coelhinhos e borboletinhas. Pense bem, que tipo de pessoa faz isso? Você. Você faz isso.



Mas sim, sabemos perfeitamente que essa é uma batalha perdida. Não vamos convencer o mundo a abrir mão do alface. E sim, saladas serão eternamente preenchidas por alface. E nós, do D&G, abertos à democracia na cozinha e que gostamos de servir a todos, vamos aqui, divulgar uma excelente receita com alface. Porque mesmo que você roube comida de futuras borboletas e coelhos inocentes, nós amamos você. E se você for comer alface, nós queremos que você faça isso com segurança, sabendo o que está comendo. E não na rua, por aí, com molho HELLmann's compartilhado. É assim que você pega salmonella, sabia?


Tempo de preparo: 25 minutos
Rendimento: Variado.

Ingredientes:


- Alface americana;

- Alface roxa;
- Rúcula;
- Tomate cereja;
- 100g Mussarela de búfala;
- 200g Peito de frango;


Para o molho:

- 1 pimenta dedo de moça;
- 1 dente de alho;
- Suco de 1 limão (peneirado!);
- 1 colher de chá de óleo de gergelim torrado (acredite, vale a aquisição, podendo ser usado para vários pratos orientais);
- 1,5 colher de chá de sopa de molho shoyo;
- 1 colher de sopa de azeite de oliva;
- 1 colher de chá de mel;


Como fazer?



- Lave as folhas dos dois alfaces e da rúcula, e o tomate cereja e reserve. Adapte as quantidades às suas necessidades (quantas pessoas vão comer, o que você gosta mais etc.);

- Corte o peito de frango em cubos médios (pense em um bom frango xadrez), tempere com um pouco de limão e shoyo. Esquente um pouco de azeite em uma frigideira e coloque os cubos de frango. 200g deve dar para 2-3 pessoas tranquilamente;
- Frango pronto? Coloque todas as folhas na travessa (ou diretamente no prato se preferir), Corte os tomates cereja em dois, e a mussarela de búfala em cubos médios (se for da de bolinha corte cada bolinha em 4, de repente). Junte todos os ingredientes gostosos (tomate cereja, mussarela e frango) aos ingredientes verdes.

- Molho: corte a pimenta dedo de moça (sem as sementes! Sério! Mas deixe um pouco das ranhuras brancas se não tiver problema com um pouco de pimenta) e o alho nos menores pedaços que conseguir (pode até ralar, mas acho que não fica legal espremer). Coloque numa xícara ou vasilha pequena todos os ingredientes do molho e misture muito bem. And that is pretty much it.
- Regue a salada com o molho - com moderação. O molho é bem saboroso, mas levemente apimentado!
Três coelhos e 100 borboletas poderiam ter se alimentado com esse alface.
Durma com esse barulho.


quinta-feira, 5 de março de 2015

YIDDISH MOMMA: XACXUCA, CHAKCHOUKA OU SHAKSHOUKA


Essa seção está sendo estreada hoje. Sim, eu já tinha pensado em fazê-la há um tempo, mas tinha me faltado um peteleco final para começar a compartilhar as minhas diversas (mais de duas e, possivelmente, menos que quatro) receitas da alta gastronomia judaico-tradicional. Para inaugurar a seção, nada de gefilte fish ou kneidlach, vamos de shackchucca xaquixuka xackso chaksh shark chackshu shackxou XACXUCA!
Meu pai, bem antes de pensar em ser meu pai

Essa receita surge no blog neste 05/03/2015 em memória ao meu pai que hoje estaria completando 64 anos. Meu pai não era muito de aventurar-se cozinhando. Nas lembranças que tenho dele na cozinha ele normalmente está lavando a louça. No entanto, havia um prato que quando queríamos comer no jantar, era a ele que recorríamos: a xaquix chaquec shackshuo xacxuca



Devo confessar que durante uns 27 anos da minha vida eu achava que a shackchucca chaksh xacxuca era um prato familiar, que tivesse sido inventado pelos meus pais em algum momento da minha infância para nos fazer comer mais ovo, produto que abundava no kibbutz em que vivíamos. Afinal, se eu, morando no Nordeste do Brasil, falasse para qualquer amiguinho na escola que ia comer chaksh shark xacxuca, eu definitivamente seria motivo de piada pelo resto da minha vida escolar. No entanto, depois de muitos anos guardando este segredo e apresentando-o apenas para os amigos mais próximos, presentes no meu círculo de confiança, já morando em Porto Alegre, vou a restaurante de comida judaica e lá me deparo com ela, linda, vermelhinha e saborosa como sempre, com uma plaquinha de identificação abaixo: a chaquechuca shackshuo xacxuca! Lá se foi um mito. O danado do prato existia de fato e ultrapassava as fronteiras da minha casa (digita lá no Google, você vai ver, existe mesmo!). 
Mas então, vou deixar de lenga-lenga e contar como se faz este simples e delicioso prato.

Rendimento - Aqui vou estimar para 4 pessoas, mas é uma receita que se pode fazer tranquilamente para uma pessoa só (costumo calcular 2 ovos para cada).
Tempo de preparo: 15 minutos  

Ingredientes:
1 lata de tomate pelatti ou molho de tomate caseiro ou 6 tomates cortados em cubinhos;
1 fio de azeite para refogar;
1 cebola;
2 dentes de alho;
sal, açúcar, pimenta, manjericão e o que mais você quiser a gosto;
1/2 pimentão vermelho(é opcional. Eu nunca uso, pois odeio arrotar pimentão. Mas, aparentemente, a receia original leva);
8 ovos;
Fale 3 vezes, bem rápido: Xuxa, Sasha, Xacxuca e cachaça!

Modo de preparo: 
Corte a cebola em cubinhos e pique o alho. Refogue-os em uma frigideira grande e coloque o tomates pelatti (ou molho de tomate caseiro ou 6 tomates cortados em cubinhos). Tempere e, quando atingir o sabor desejado e estiver bem quente, acrescente os ovos sobre o molho. Coloque sal e pimenta rapidamente nos ovos e tampe a frigideira até que ovo esteja no ponto desejado. Eu curto com a gema ainda mole a a clara já toda bem branquinha. Sirva acompanhado de arroz branco. 
Enjoy!