sexta-feira, 22 de julho de 2016

GELEIA DE MORANGO E AMOR DE FEIRA

Nós já discutimos anteriormente os prazeres de frequentar uma boa feira. A possibilidade de descobrir coisas novas e conhecer pessoas novas, mesmo que essas pessoas sejam brasileiros tentando se passar por chineses como estratégia de marketing, é sempre uma vantagem da feira.
E eu não posso tomar qualquer crédito por isso. As feiras para mim sempre foram um lugar exótico, um passeio diferente para ser feito uma vez ao ano. O ambiente de iluminação artificial e impessoal e de produtos industrializados e o mais padronizados possível de um supermercado sempre foi meu habitat natural. A mudança para a feira é algo que deve ser creditado à Mog, e apenas a ela. 

Como qualquer pessoa que frequenta demais o mesmo supermercado sabe, com o tempo, o ambiente acaba se tornando familiar. Você sabe onde estão os produtos que costuma comprar e em que posição estão dispostos. E com o tempo, a impessoalidade dos caixas pode acabar dando lugar a uma simpatia natural, que emerge do fato de você já ter interagido com aquela mesmo caixa 15 vezes, qual é, nem um "oi, tudo bem?". E isso é muito bom, pois acaba trazendo um pouco de sanidade para um ambiente que de outra forma seria completamente artificial. Mas é claro, como em qualquer grande empresa, funcionários vêm e vão, novas pessoas, novos rostos e na realidade qualquer princípio de familiaridade não dura muito tempo. 

Isso não é um problema na feira. Qualquer interação é a possibilidade de uma conversa, um diálogo, uma negociação. "Quanto está a batata?" "Como eu preparo isso?", "Come com o que?", "Tá caro hoje!" e por aí vai. Depois de apenas algumas vezes, os feirantes já sabem o que você costuma comprar, ou imaginam o que você pode gostar. "Cogumelo está bonito hoje!" "Vou ficar te devendo o parmesão uruguaio!". Se vou sozinho: "E a amiga, está para onde?".
E isso só é possível pelas pessoas do outro lado da barraca: vendedores, muitas vezes famílias, que toda a semana organizam os produtos no caminhão e seguem para a feira para ganhar o dinheiro do dia a dia. 
Para mim, historicamente acostumado aos templos da impessoalidade (Shoppings e Supermercados), a feira ainda é um ambiente estranho. Sempre fiz o máximo de esforço possível para não interagir com vendedores e costumo ser rápido e objetivo. É engraçado como a educação e boas maneiras podem ser uma boa máscara para a impessoalidade, pois cria uma barreira gentil entre as pessoas. 

E o motivo dessa reflexão toda se deve a um episódio que presenciei essa semana enquanto procurava morangos, que finalmente baixaram de preço depois de uma temporada de preços abusivos. Na barraca, um pai e sua filha, de uns seis anos de idade, compravam melões. O vendedor, mais parecendo um velho amigo de família, chega oferecendo uma prova, para a felicidade da garotinha, que abre um sorriso e até ensaia uma dança comemorativa. Enquanto o pai escolhia o melão, a menina chama a atenção de todos. Mostra, um pouco apreensiva, um dente de leite perdido para o pedaço de melão. Tanto o pai quanto os atendentes da barraca começaram a comemorar juntos e comentar como a menina cresceu: "Parece que foi ontem que ela era só um bebê tentando chupar um pedaço de fruta!" 

Esse foi apenas um pequeno momento do cotidiano, daqueles que facilmente escapam a nossa atenção, mas que tornam o nosso dia imediatamente melhor. A feira é mais do que um lugar de transações comerciais, ou de um lugar para comprar hortifrutis melhores e mais baratos. No meio da normalização do distanciamento da Urbe, se torna o lugar onde tentamos resgatar o sentimento do que é viver em comunidade. 

E é por isso que eu acho que você deveria ir na feira com mais frequência. 

Para recompensar todas as 7 pessoas que tiveram a paciência de ler o texto até aqui, aí vai uma deliciosa, prática e simples receita de Geleia de Morango, 100% sem condimentos e 100% com muito amor. 
Na foto: única forma em que como morangos.




Tempo de preparo: 40 minutos.
Rendimento: Vou ensinar um pote pequeno, multiplique conforme a sua necessidade. 

Ingredientes:

- 250g de morangos maduros (peso líquido: já sem os talos verdes e lavados!)
- 100g de açúcar refinado;
- Suco de 1/2 limão siciliano OU 1 limão Tahiti pequeno;
- 6 sementes do limão siciliano - Se for usar o limão Tahiti, que não tem semente, improvise com sementes de algum outro cítrico, como laranja ou lima da pérsia. 
- 1/4 fava de baunilha. Baunilha de verdade. Se não tiver baunilha de verdade, faça sem baunilha, vai ficar bom. Não use essência de baunilha. NÃO USE ESSÊNCIA DE BAUNILHA. (Mas se resolver usar, me conte se dá certo).

Como fazer?

- Fazer doces exige um pouco de precisão nas medidas para não ficar doce demais. Confira com uma balança se tem realmente 250g de morangos já limpos. Estando ok, corte cada morango em 4 pedaços, para no final os pedaços de fruta não ficarem grandes demais. 
- Coloque em uma panela o morango, o açúcar, o suco de limão e as sementes. Ao colocar a 1/4 fava de baunilha, abra a vagem e com uma faca raspe as sementes (com a parte de trás da faca) direto para a panela. Coloque o restante da fava aberta também na panela. Misture tudo.



- Dica sobre as sementes: coloque-as amarradas dentro de uma gaze ou de uma camisinha de chimarrão (coisa de gaúcho),para ficar mais fácil de retirar depois.






- Cozinhe em fogo médio/baixo, em panela destampada, mexendo de vez em quando, por 15-20 minutos. Use a colher de pau (ou de polietileno, que é mais recomendado pela anvisa) para ir esmagando os pedaços de fruta ao longo do processo.
-Como ter certeza que estará pronta? Quando estiver ainda fácil de manipular, mas não muito líquida (Quando esfriar ela vai ficar mais consistente) e com um tom vermelho escuro intenso. 

Assim, mas sem o filtro "ano passado". 

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